domingo, 29 de julho de 2012

As 7 principais dúvidas dos consumidores endividados


A inadimplência demonstra um cenário preocupante para o consumidor brasileiro, no último mês. O Ibedec (Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo) notou um aumento de cerca 40% de consumidores inadimplentes que procuram informações com o objetivo de sair das dívidas.

Um levantamento do Banco Central mostra que 39,1% dos brasileiros estão com suas rendas comprometidas com dívidas.

Veja as principais dúvidas dos consumidores que o Ibedec selecionou e as respostas do instituto:
1- Devo utilizar a antecipação de 13º e imposto de renda para quitar dívidas?
A antecipação só deve ser usada se os juros do adiantamento do imposto de renda e do 13º forem inferiores aos juros dos outros contratos.
2- Efetuando o pagamento da minha dívida, qual o prazo para ser retirado meu nome dos órgãos de proteção ao crédito?
O prazo máximo estipulado para a baixa da negativação é de cinco dias.
3- O que devo fazer quando já quitei minha dívida, mas continuo negativo?
Nesse caso, o consumidor deve tirar um comprovante de restrição dos orgão de proteção ao crédito, incluir o comprovante de quitação da dívida e entrar com ação de danos morais.
4- Quando efetuo um acordo com meu credor, meu nome é retirado da lista de consumidores inadimplentes?
A retirada imediata acontece apenas se ficar estabelecida como parte do acordo, pois a dívida só é considerada quitada após o pagamento de todas as parcelas.
5- Deve se contratar uma empresa para limpar o nome?
Essa opção não é a mais aconselhável,  as empresas são pouco eficientes caso a negativação não seja indevida.
6- As empresas de cobranças fazem utilização de práticas abusivas?
Sim, o Ibedec confirma como prática abusiva contatos telefônicos fora do horário comercial, que restringem o descanço e a privacidade do consumidor, uso de vocabulários chulos, insultos, ameaças e coação, exposição da inadimplência do consumidor à terceiros, ameaças de reaver os bens do consumidor e passar-se por advogado ou oficial de justiça com o objetivo de intimidar o consumidor.
7- O que fazer com dívidas em caso de morte?
A dívida deverá ser paga. Se o falecido não tiver bens suficientes para quitar todas as suas dívidas, elas não serão passadas para os seus herdeiros.

Maior endividamento está relacionado ao aumento do crédito imobiliário, diz BC

Kelly Oliveira
Da Agência Brasil, em Brasília
 
O aumento do endividamento das famílias é devido “em boa parte à expansão dos financiamentos habitacionais”, avaliou nesta quinta-feira (26) o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel.
De acordo com Maciel, em janeiro de 2009, o volume total das dívidas das famílias em relação a um ano de renda correspondia a 32,15%. Em abril deste ano, o percentual ficou em 43,3%. Ao ser retirado desse cálculo, o endividamento das famílias com o financiamento habitacional passou de 27,2%, em janeiro de 2009, para 31,2%, em abril de 2012.
“Isso é uma evidência de que grande parte do crescimento do endividamento decorre da expansão do crédito imobiliário, que é algo positivo. As famílias estão constituindo patrimônio, tendo melhoria de qualidade de vida”, destacou Maciel.
Maciel argumentou ainda que a expansão do crédito no país vem acompanhada do crescimento da renda das famílias. “Tem um aumento expressivo de emprego e também melhoria de salários. O crédito cresceu porque a capacidade de pagamento das famílias permitiu isso”, acrescentou.
De acordo com Maciel, o comprometimento da renda mensal das famílias com o pagamento de dívidas com o sistema financeiro “tem mostrado estabilidade desde o primeiro semestre do ano passado”. Em janeiro de 2010, o percentual era 19,7%. No mesmo mês do ano passado, chegou a 19,8% e subiu para cerca de 22% em agosto do ano passado. Em abril de 2012, esse percentual ficou em 22,1%.
A redução no valor que as pessoas precisam desembolsar, por mês, para pagar as dívidas ocorre porque os prazos para pagamento estão maiores, influência do crescimento do financiamento habitacional. Com os prazos maiores, as parcelas dos financiamentos também ficam menores. Outro fator, continuou Maciel, para a diminuição do comprometimento da renda é a redução das taxas de juros.
 

"Descontrole financeiro é um problema emocional", diz psicóloga do HC

Aiana Freitas
Do UOL, em São Paulo
 
Um serviço incomum de ajuda a superendividados terá início em agosto em São Paulo. O Procon vai prestar atendimento especial para pessoas que estão com problemas graves com dívidas. O serviço, porém, não ficará restrito apenas a dicas financeiras e apoio jurídico: nos casos mais graves, os consumidores serão encaminhados para tratamento psicológico.
O atendimento será feito por profissionais do Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso do Hospital das Clínicas de São Paulo. Renata Maransaldi, psicóloga do ambulatório, diz que a parceria com o Procon é o primeiro passo para tornar esse tipo de auxílio mais conhecido, mas o hospital tem outros projetos em estudo.
O instituto possui, desde 2004, um serviço de atendimento psicológico e psiquiátrico a pessoas que têm os chamados transtornos de impulso, entre eles o hábito da compra compulsiva.
Para a psicóloga, o tratamento do tema como política pública, por meio de ações de apoio que vão além do aspecto jurídico, se faz necessário num momento em que cada vez mais pessoas têm acesso ao crédito. "O descontrole financeiro é um problema emocional", diz. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
UOL - Como é possível diferenciar uma pessoa que tem um problema no orçamento daquela que tem de fato um transtorno?
Renata Maransaldi – No ambulatório, fazemos uma triagem e aplicamos um questionário. Algumas características ajudam a identificar o comprador compulsivo: o tempo de duração do problema, o fato de o assunto ficar na cabeça da pessoa durante o dia e de ela ter prejuízos no trabalho, além de dívidas. A preocupação excessiva, a perda do controle, as mentiras que a pessoa conta para a família, o fato de ela comprar para lidar com alguma angústia ou emoção negativa, por exemplo, são outros aspectos levados em consideração.
Às vezes a pessoa faz uma compra, mas não tem uma preocupação excessiva com relação a isso. O comprador compulsivo não: ele vai trabalhar pensando no assunto. Tivemos um caso em um grupo de uma paciente que ficou falando várias semanas sobre um casaco vermelho que ela comprou. Isso se tornou um grande problema para ela, que era dona de casa e não conseguia nem mais fazer os serviços domésticos. O comprador compulsivo tem um descontrole, acaba comprando mais do que deveria ou poderia. Isso pode até acontecer com quem está com um problema financeiro uma ou outra vez. Mas, com o comprador compulsivo, é recorrente.
Por que essa pessoa precisa de tratamento psicológico?

Porque, com o tratamento, ela vai tratar as emoções. Uma pergunta que sempre é fazemos é: qual o significado dessa compra na sua vida? É para preencher algum sentimento? A pessoa só consegue perceber isso quando está em processo terapêutico. Muitas vezes, essas pessoas têm dificuldade até de fazer seu planejamento financeiro. Olhar para o orçamento, para ela, é uma coisa ruim. Ela tem uma resistência em descobrir como está a vida financeira dela.
Nós ajudamos as pessoas a montarem uma planilha semanal de gastos, e geralmente elas se surpreendem quando veem o resultado. É aí que elas precisam de tratamento: para tratar a parte emocional, saber como lidar com aquilo. Dificilmente elas percebem, mas o descontrole é um problema emocional. Então é muito importante mostrar também para a família que elas precisam de ajuda, até porque a família sofre as consequências junto com o comprador.
Geralmente existe outro problema associado à compra compulsiva, como depressão?

Sim. Esses pacientes apresentam um transtorno do impulso, que é uma doença psiquiátrica. Geralmente existem outras doenças associadas ao transtorno, como depressão e ansiedade. Alguns pacientes também têm transtorno obsessivo-compulsivo ou transtorno afetivo bipolar. No caso do transtorno bipolar, por exemplo, uma das características de quando a pessoa cai em mania é comprar em excesso. Aí entra na parte psiquiátrica. Nós temos um mecanismo do cérebro que é como se fosse um freio, e a pessoa que apresenta o transtorno do impulso tem um deficit nesse freio. Por isso fazemos a entrevista com um psiquiatra e oferecemos o acompanhamento.

Eles precisam de medicação?
A maioria, sim. Esse deficit é um processo químico, e ele precisa da medicação para ser regulado.

Existe um perfil padrão entre os compradores compulsivos?

A compra compulsiva independe da renda. Mas 99% das pessoas atendidas no nosso ambulatório tiveram prejuízo social, familiar ou profissional em função das compras, além do problema financeiro em si. As mulheres procuram mais tratamento. Os homens também têm esse problema, mas têm muita vergonha de procurar tratamento.

A compra compulsiva e o endividamento viraram problema de saúde pública?

Sim. O transtorno do impulso como um todo é um problema de saúde pública, como a dependência de internet. No projeto-piloto que fizemos com o Procon, de 20 pessoas encaminhadas para nós, cinco foram diagnosticados com problema de compra compulsiva. O Procon está dando o primeiro passo nesse auxílio, mas temos outros projetos em estudo. As secretarias de Saúde precisam tomar a frente disso, porque o transtorno psiquiátrico e o endividamento têm grande impacto na qualidade de vida da pessoa. Há pacientes que relatam pensamentos suicidas porque não veem solução para o problema. A pessoa fica muito abalada, especialmente quando a família se envolve. Vários casamentos já sofreram consequências disso.
No Brasil, agora o crédito é de fácil acesso e as pessoas acabam se perdendo. Em um dos questionários que aplicamos perguntamos quando a pessoa começou a comprar compulsivamente e quando dobrou o valor da compra. Geralmente, o começo é quando a pessoa começa a trabalhar e recebe seu primeiro salário. O valor da compra é dobrado quando a pessoa tem uma promoção do trabalho e a renda aumenta, geralmente por volta dos 30 anos. As pessoas estão muito deslumbradas com o acesso fácil ao crédito.