sexta-feira, 8 de abril de 2011

Um crime sem justificativas aparentes

Tornasse muito difícil escrever sobre um fato tão circunspecto como o ocorrido na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

A verdade é que muitos meios de comunicação estão se aproveitando deste momento para vender sua grade.

A consternação produzida pelas redes de comunicação aparentam não levar em consideração a gravidade do acontecido, e o peso que sua cobertura extremada pode causar.

Como profissional da área, e professor da matéria de criminologia, sou convidado a observar o caso por outra ótica, ou seja, pelo ponto de vista da ciência, para que fatos como esses possam ser compreendidos e assim evitados.

Inicialmente é necessário frisar que não há uma única explicação para um fato como esse, lidar com um crime dessa magnitude é como juntar as peças de um objeto quebrado, sabendo que jamais se conseguirá a perfeição da sua reconstrução.

Entretanto, a necessidade de se observar esse quadro isolado de violência está no aspecto do ineditimos, como também, na perspectiva de tirarmos algumas lições sobre ele, possivelmente contendo outros crimes como o acontecido.

Aqui ressalto, que alguns podem não acreditarem nesta possiblidade, mas a história de outros países, comprovam que se estudando crimes desta natureza se consegue atingir respostas para alguns questionamentos que conduzam a prevenção. Se há chances ou não de compreendê-lo? O próprio crime deixa pistas para sua compreenção.

Inicialmente deve-se observar esse assassinato como um fato criminoso "comum", que está previsto nas ciências do direito penal, onde há um agente, há vitimas, há um cenário, um ambiente, e independentes das suas razões, existe uma mensagem, ou seja, deve-se compreender os acontecimentos reais, sem qualquer elucubração mais estendida.

Um jovem aparentemente sem motivação nenhuma, consegue ingressar em uma escola municipal secundaria, armado, e realiza mais de cem disparos, matando 12 crianças, na maioria meninas.

É contido por um sargento que lhe efetua um disparo, ferindo-o, e levando-o a cometer suicídio.Esse é o panorama dantesco do crime.

A partir do presente relato colhido nos órgãos de impressa iniciemos a compreensão de todos os personagens, e objetos envolvidos.

A primeira impressão que fica é que foi um quadro moldado a partir da cabeça do assassino, um misantrópo, que externando a imaginação, idelizou uma peça teatral, onde ele conduz os fatos até o seu trágico fim.

Neste sentido, o crime nos leva a entender que existia a necessidade de expressão de um conflito interno do assassino, e muito mais do que isso, a necessidade de subjugação do ambiente da tragedia.

Nestes ponto é percepitivel o forte simbolismo existente, quando se escolhe a escola, quando se determinam as regras, quando se liquida os colegas, e a imaginação desmedida é algo bastante evidente, ao ponto de que em sua carta se percebe trechos como ele acredita esta participando dos acontecimentos após ser liquidado.

Outro aspecto interessante, é a escolha do local, o palco do crime parece ter sido devidamente pensado.Não quis o assassino matar pessoas na rua, para ele a escola tem um significado pessoal, afetivo, além de gerar maior repercussão.

Simbolicamente não foi qualquer escola, foi a escola que o assassino já teria estudado.

Observe o interessante deste aspecto, ele já tinha se desligado do colégio há pelo menos 8 anos, mas é evidente que o simbolismo desta ainda permeava sua mente.

Fato que também chamou a atenção é que essa escola é diferenciada, sendo municipal e mesmo nesta condição, parace oferecer educação de qualidade, o que deveria ser regra. Suas paredes não têm uma pinchação, exibindo uma estrutura diferenciada das demais escolas ali existentes.

Segundo inúmeras reportagens vários alunos formados ali teriam ascendido em suas carreiras profissionais, existindo inclusive 3 doutores em biologia formados primairamente pela instituição.

Aqui não farei observação alguma, mas é inegável que estes detalhes chamam atenção.

Desta expressão surge algumas compreensões, a primeira é que o criminoso em conflito interno elegeu uma relação com o fato criminoso e o local onde praticaria o crime, provavelmente fixando em uma época, em um momento de sua vida relacional, onde ou foi feliz, ou infausto.

O certo é que não foi ao acaso que a escola foi escolhida, ela faz parte deste mistério.

Outro aspecto necessário se observar é a vida pregressa do assassino, e pelo que foi divulgado ele tem um histórico de doença mental na família, sua mãe biológica é esquizofrênica.

Adotivo, era o filho mais novo de uma família de seis irmãos. Seus pais adotivos faleceram num curto espaço de tempo, pai em 2008, mãe no ano passado.

Seu comportamento relacional com vizinhos, colegas de trabalho e família adotiva também já apontava para a necessidade de uma intervenção médica psicológica, ou seja, o isolamento, e a fixação por um comportamento repetitivo, no caso do criminosos a utilização da internet continuamente, como fuga da realidade.

Segundo informações o criminoso também já vinha dando sinais desse conflito, ou seja, pediu demissão do emprego que possuía, falava de morte, pesquisava sobre armas, estava se isolando cada vez mais, e não mais mantinha relação com as pessoas fora do seu circulo familiar.

Com a morte de seus pais talvez tenha sido acesso o estopim do comportamento violento, ou seja, a indução ao crime muitas vez precisa de uma fagulha para que se inicie um processo de execução do imaginário.

Pelo que me parece o criminoso manifestou a impressão de que o que possuia estava sendo destruído, família, estrutura mental, afeto.

Não se pode contudo criar um clima de terror, ou de preconceito contra pessoas que detenham doença mental, ou comportamentos de isolamento, mas, é inegável que indivíduos como o assassino apresentam baixa auto-estima, além de serem indivíduos que voltam pra agredir o que supostamente eles entenderam que é um grupo que os rejeitou ou os ameaçou, então eles fazem como uma revanche, uma vingança nesse local, planejam um ato espetaculoso, com muito armamento, e causam essas tragédias e infelizmente ganham notoriedade.

Neste aspecto gostaria de observar mais uma coisa, essa cena teatral grotesca foi lida ou vista pelo assassino em alguma oportunidade, seu comportamento com certeza foi baseado em crimes semelhantes.E aqui gostaria de cópilar um artigo retirado da Revista Veja de 1º de Outubro de 2008, pág. 121, que comentava a época dois massacres ocorridos em Escolas da Finlândia em menos de um ano, onde se questiona o efeito "imitação" como estímulo para crimes deste porte, vejamos:

"Não são meras coincidências.Quanto maior a atenção dada a um massacre como esse, maior é a possiblidade de ele ser imitado" . disse a Veja o sociólogo e criminologista americano Jack Levin, da Universidade Northwestem, nos Estados Unidos, estudioso em massacres em escola. Os assassinos em massa recebem um reconhecimento instantâneo e tornam-se pessoas que não podem mais ser ignoradas. O efeito "imitação" estimula outros psicopatas a planejar ataques para concretizar seus delírios de notoriedade, criando uma série de crimes similares."


Nestes sentido, pode-se deduzir que o ocorrido no Rio foi uma reprodução de uma história percebida bem distante dali.

Além de que a destreza como lidava com as armas levam a crer que o fato foi meticulosamente planejado, o que fugiria também de uma completa alucinação.

É importante falar e discutir o assunto para que não se coloque apenas uma pá de cal sobre o crime, quando na verdade apesar de não se enquadrar em nada do que já foi visto no Brasil ele nos traz vários questionamentos.

Entre eles e talvez o mais importante é sobre políticas publicas voltadas para a saúde mental. Um fato como o ocorrido, da maginitude que o fora, não podia se deixar de falar sobre as politicas públicas de saúde mental.

Tema que é pouco discutido e muito menos colocado em prática. Essa área não é tratada com seriedade, nem muito menos o sistema único de saúde detém programas que viabilizem o tratamento de pessoas com transtornos.

Outro fato importantíssimo é o combate à comercialização de armas de fogo, pois, como compreender que um jovem de 24 anos, como comportamento manifestamente doentio tenha acesso a dois revolveres, sendo um de calibre 38.

E mais do que isso, tenha acesso a munição de ambos os calibres, e pelo que se contabiliza, uma farta munição.

Além disso, o assassino demonstrou destreza, ou seja, é inimaginável que nunca tenha treinado a troca de cartuchos no tambor do revolver, ou meso tenha atirado.
Ai fica uma outra pergunta, qual o papel da família neste caso.

Observe o que diz o irmão do atirador, segundo reportagem do portal G1:
Horas depois da tragédia no Rio de Janeiro, o Jornal Nacional encontrou perto de Brasília um irmão de Wellington Menezes de Oliveira, o atirador da escola de Realengo. Ele pediu para não ser identificado, mas aceitou conversar com a equipe. O irmão do atirador tem medo da reação da população, de sofrer represálias depois de tudo que aconteceu. A tragédia deixou 12 crianças mortas.

"Ele sempre foi um adolescente muito ausente de tudo, não se relacionava com ninguém. Era sempre muito trancadinho, muito fechadinho. Na escola, a mesma coisa", disse o irmão.
E continua

Na época, os irmãos vasculharam o computador de Wellington e descobriram o que ele andava pesquisando.
"Ele fazia muitas pesquisas a respeito de tiros, algumas coisas dessa forma aí", disse.
O irmão também conta que Wellington surpreendeu a família com alguns pensamentos.
"Eu estou com vontade de, por exemplo, de destruir um avião, como o outro fez lá nos Estados Unidos", contou o irmão.

http://g1.globo.com/Tragedia-em-Realengo/noticia/2011/04/ele-sempre-foi-um-adolescente-muito-ausente-diz-irmao-do-atirador.html

Pelo que parece a família já estava assustada com o comportamento do assassino, e já sabia que o mesmo detinha problemas.

No âmago familiar inúmeras são os conflitos, os dilemas, e que se não encarados como deafios de convivencia, podem gerar o comportamento de isolamento de seus membros, e com o isolamento, cada um se cria da melhor maneira, e age segundo o que lhe der na cabeça, o que muitas vezes pode desembocar em atos violentos como o relatado.

A família está sendo desafiada a não permitir o isolamento de seus membros, pois, atualmente é muito mais fácil a permissividade autorizada do que o conflito trabalhado.

Não se vê mais o enfrentamento saudável de pais os filhos, nem muito menos entre o s demais membros da família.

Imaginasse que é impossível que pessoas que convivem com alguém diariamente não percebam que um dos membros possa está precisando de ajuda. Será que a ajuda só deve vir quando desemboca em uma tragédia.

Outro aspecto relevante a ser tratado é o papel da mídia, dos meios de comunicação neste caso, imagino que durante dias seremos abarrotados de imagens, informações desnecessárias, detalhes horripilantes, e perspectivas que podem trazer mais do que o simples esclarecimento, podem promover um quadro doentio na sociedade.

E aqui eu ressalto que já percebo que há meios de comunicação associados a igrejas que estão fazendo uma cobertura muito mais sangrenta do que os demais, provavelmente para criar um estado de catatonia, a custo de que, e para que fim eu desconheço.

O certo é que neste momento não se percebe o cuidado no repassar das informações, imagens e detalhes. Eu mesmo tenho sido assombrado pelo requinte de crueldade com que fora dito que o assassino utilizou para trucidar as crianças, coisa que não precisava ser repassada ao publico em geral.

Como trabalhar um caso como esse de forma correta deveria ser o questionamento que as televisões deveriam se deparar ao invés de concorrerem entre si pela audiência.

E aqui eu alerto, um fato grave como esse é como uma pedra jogada em um lago suas ondas podem se propagar de forma continua, e neste caso, desastrosamente, pois, se for dado credito a um assassino transloucado mais do que a repressão ao fato acontecido, se estará estimulando que pessoas possam vir a fazer semelhante ato e com isso atraiam para si os holofotes da mídia.

A verdade é que estamos diante de algo difícil de ser digerido, porém, deve ser trabalhado, ou seja, deve ser estudado, e deve ter um retorno para a sociedade como por exemplo a implementação dos serviços acima indicados.

Além disso não se deve tirar da sociedade o direito do luto manso e pacifico, ou seja, não se deve enaltecer o fato, nem muito menos relegá-lo ao esquecimento, ele deve ser visto com dor e pesar, e deste ato devem surgir a solidariedade esponatena da sociedade, sem manipulação midiática.

Há muitos anos que o Brasil vem vivendo uma situação de extrema violência, e pior, suas políticas publicas se voltaram apenas para o engodo, para as boas intenções, e isso como se viu não é o bastante.